O que você faz (ou já fez), mas disse que jamais faria?
Eu conheci uma menina em uma agência em que trabalhei que todos os dias, antes de sair de casa, deixava a escova de dente do marido já com a pasta, prontinha, em cima da pia, para quando ele acordasse. Na época em que ela contou isso pra gente, ninguém perdoou: todo mundo morreu de rir e ela ficou sendo zoada eternamente por ser a mina que tinha orgulho de botar a pasta na escova do marido. Eu não entendia por que alguém faria aquilo.
Pula pra quase 10 anos depois, me casei. E a ironia veio me visitar: quando me dei conta, já era um hábito meu e do meu marido, na hora de deitar, trazer a escova “pronta”, com a pasta, um pro outro. É espontâneo, é recíproco: quantas vezes fui dormir depois dele e encontrei minha escova, já com a pasta, na pia? Quantas vezes fui deitar primeiro e deixei a dele lá também, prontinha?
Então percebi o que eu tinha feito: eu julguei aquela menina. Critiquei uma atitude que, anos depois, eu mesma teria. Talvez você tenha formas bem diferentes de demonstrar amor, mas eu vi que, na verdade, esses hábitos nunca a fizeram menos mulher nem menos forte – pelo contrário: é preciso ter muita coragem para cuidar e se permitir ser cuidada por alguém. Fiquei lá olhando para a pasta e a escova, com remorso e vergonha, pensando: “agora eu entendo”.
Esse exemplo bobo me fez ver que o problema da gente é que muitas vezes só entendemos o lado do outro quando nós estamos nele. E a empatia é justamente o ato de fazer isso sem precisar viver a mesma situação. Mas é difícil, não? A gente julga a maternidade dos outros até ter um filho; não entende uma depressão até ela bater na sua porta; condena a dívida, o comportamento, as escolhas dos outros… até você viver o mesmo.
Ações que ontem a gente julgou podem ser as mesmas que, hoje, mostram o quanto nossa empatia chegou atrasada. Mas dá pra chegar a tempo – é só olhar um pouquinho mais pra nós mesmos antes de apontarmos para os outros.
Você já pagou a língua também? Conta pra mim aqui. Eu vou amar saber, de verdade.